Critica: The One – Primeira Temporada (Netflix)

Será que você teve match? Nova série da Netflix exibe um "Tinder" baseado em combinação de DNA

Acabei de fechar a primeira temporada de The One, série que mistura drama, suspense e ficção científica, série inglesa original da Netflix.

Assisti por acaso, “zapeando” por entre a programação e recebendo as sugestões do canal (na maioria das vezes extremamente de mal gosto). Investigando  mais a fundo, descobri que a série é baseada no livro de mesmo nome de John Mars, (publicado no Brasil pela Globo Livros).

Logo no início da série a rica, inteligente e elegante Rebecca Webb, protagonista do show e CEO da fictícia StartUp “The One”,  lhe faz essa pergunta em forma de discurso:

“Se você pudesse saber quem é a sua alma gêmea, com precisão científica, você faria o teste?”.

A sinopse da série:

“A geneticista Rebecca Webb (Hannah Ware) e seu amigo James Whiting (Dimitri Leonidas) descobriram como achar a combinação perfeita entre os casais por meio do DNA. Tudo o que a pessoa precisa fazer é enviar uma amostra genética para a empresa The One, como um fio de cabelo por exemplo. Lá, em seu banco de dados com milhões de amostras, procura quem tem a genética pela qual é comprovado que irá se apaixonar. Mas achar a pessoa perfeita é simples, o difícil é saber que ela tem defeitos, problemas e que mesmo os pares que mais combinam podem não dar certo.”

O aplicativo criado pela cientista afirma que no mundo existe uma pessoa totalmente compatível com você, e que através de uma análise e comparação de seu DNA, é possível achá-la. Só que com o correr dos episódios descobre-se que a premissa da série não é bem essa e acompanhamos dois investigadores tentando descobrir como um dos cientistas envolvidos na pesquisa do DNA usada como base para o aplicativo acabou morto dentro de um rio.

A série também traz algumas tramas paralelas, como a de uma detetive que descobre no teste da The One que sua cara metade também é uma mulher. No primeiro encontro delas, por conta de um acidente  ela acaba conhecendo a esposa secreta de sua namorada virtual. A série também nos apresenta a história de uma mulher insegura na relação, que testa o marido no aplicativo sem ele saber para investigar como é a sua alma gêmea, copiar seus hábitos para agradá-lo e tentar fazer o possível para afastá-la dele, mas por um azar acaba aproximando os dois.

O que achei da série

A série seria fantástica se tivesse sido feita há uns 10 anos atrás. A ideia é ótima para um romance, mas para uma série ficou demais, o tema ficaria melhor em um episódio de Black Mirror (não é que já foi feito um episódio sobre isso?). A própria mídia já bateu demais o tema, abordados em séries como “Love Alarm” ou “Soulmates”, dentre outras menos conhecidas.

Resumindo:  “The One” não nos entrega nada de novo. Passamos boa parte do episódio pensando:

“já vi isso em algum lugar”.

Além disso temos muitos clichês, discursos de efeito batidos e personagens desinteressantes e estereotipados envolvidos em uma trama previsível, onde descobrimos logo no início quem matou quem, como foi e que rumos a trama tomará.

Sem contar a conveniência das situações para a protagonista, aliada a uma total falta de inteligência dos investigadores. Cada episódio tem 45 minutos que no fim parecem 90 com o arrastar lento da  trama nos episódios.

O que gostei na série

O interessante da série é como o autor consegue interligar os arcos dramáticos. Inicialmente a única coisa que parece que todos eles tem em comum é o sistema, mas com o passar da temporada vários elementos vão tornando cada personagem dependente do outro. A ótima montagem não fica só na questão das tramas individuais:  a série trabalha com diferentes linhas do tempo, tendo um cuidado com o figurino, a maquiagem e a própria postura de cada um dos protagonistas. Eventos de anos atrás vem por meio de flashbacks da própria Rebecca, e conseguimos distinguir cada período pelo visual e pela motivação dos personagens, característicos de cada uma das épocas, seja eles ainda estudantes de doutorado ou CEOs de um império multimilionário.

Outro ponto forte da série é mostrar os problemas que uma empresa como The One pode criar: aumento absurdo das taxas de divórcio (pessoas comprometidas descobrem que sua combinação não é o cônjuge); o poder de manipulação que uma pessoa que tem acesso a esse banco de dados pode possuir, a influência que uma sugestão (mesmo falsa) pode ocasionar a mente de uma pessoa fragilizada e como uma empresa popular pode crescer criando um produto mas omitindo os efeitos colaterais dessa nova tecnologia e suas limitações: situações bem “Black Mirror”.

E finalmente um bom motivo para ver a série: Hannah Ware, que interpreta Rebecca Webb é uma atriz competente, que convence em cena.  A própria Rebecca é um personagem interessante, só que essa é uma afirmação meio difícil de comprovar, já que os demais personagens são fracos e menos desenvolvidos na série, o que a deixa em evidencia no conjunto.

A série foi produzida na Inglaterra e a primeira temporada tem 8 episódios com 45 minutos em média cada um. A Netflix ainda não anunciou uma segunda temporada, mas a série deixa aquele final em aberto, que praticamente chantageia os executivos a investirem em uma próxima temporada para verem o final da trama (isso não está funcionando muito bem ultimamente: séries como Altered Carbon, American Gods, The AO,  Bloodline e Marco Polo foram encerradas sem um final definitivo).

E aí ficam duas perguntas:

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