Uma coisa que sempre presencio em museus e exposições são turistas tentando burlar a regra de não poder fotografar as obras em exposição. Tenho desconhecimento do porquê dessa regra: alguns dizem que pode ser para preservar a imagem do museu (pois fotos ruins divulgadas por fotógrafos amadores podem afastar visitantes), outros dizem que é para que o evento possa ter mais vendas em sua lojas de souvenirs, mas desconfio que o motivo principal está relacionado ao uso do flash, pois muitas pessoas simplesmente não sabem como fazer para desligar o flash de seu equipamento.
A luz gerada no disparo do flash das câmeras é tão intensa que com o tempo acaba adulterando a própria cor das pinturas. Na verdade qualquer luz branca, como a do Sol ou a até das lâmpadas fluorescentes, é capaz de degradar com o tempo as cores de um objeto, e essa capacidade de interferir na pigmentação aumenta conforme a intensidade e frequência. A incidência da luz do flash sobre uma obra de arte equivale à exposição ao Sol por semanas porque o processo utilizado para gerar a luz nesses equipamentos é extremamente forte e gera uma grande quantidade de radiação infravermelha e principalmente ultravioleta, a mesma radiação que envelhece a pele e desbota a pintura dos carros. Essa radiação causa até o amarelecimento de papéis e documentos expostos.
O curioso é que as obras que mais sofrem esses efeitos são as mais recentes (do século XX), pois os produtos industrializados usados (tintas, óleos, telas, etc), até então incomuns na arte, possuem componentes instáveis que deterioram mais facilmente e atacam outras partes da própria obra.
Por que isso acontece?
As radiações infravermelha e ultravioleta que são geradas junto com a luz branca pelas lâmpadas do flash ativam um fenômeno chamado fotodegradação. Essas radiações rompem as ligações das moléculas de pigmentos e tinturas chamadas de fotodegradáveis. Esse processo é ainda mais rápido em lugares úmidos e quentes, como no clima da Amazônia. A fotodegradação também está ligada a outro fenômeno, chamado de fotólise da água, que acontece normalmente durante a fotossíntese, quando a planta usa a energia luminosa para separar os átomos que compõem a molécula de H2O. Com relação ao desgaste (amarelamento) dos papéis, o principal responsável é a lignina contida neles, que após ser oxidada pelo ar absorve mais raios ultravioleta, ficando escura e dando uma tonalidade amarela ao papel, como acontece com aqueles jornais guardados fora de casa.
Por que os museus não usam vidros com filtros anti-UV para conservação?
Na maioria dos casos é usado sim, quando a obra pode ficar protegida, mas a proteção não é 100% eficaz e os raios luminosos gerados pelo flash conseguem facilmente ultrapassar essa proteção.
O que eu posso fazer para registrar minha visita
Infelizmente temos que seguir as regras do local. Lembro quando fui visitar o museu Louvre em Paris em nenhuma obra existia restrições de fotografia, até foi engraçado um momento da visita, quando entrei no salão onde estava exposta a senhora “Monalisa” e foi um martírio para me aproximar, dada a quantidade de fotógrafos amadores tentando conseguir um melhor ângulo para registrar tal celebridade do mundo das artes. Recomendo que vá ao seu evento, sente em frente a obra e a aprecie com seus olhos e não pela tela de cristal líquido que hoje em dia estamos acostumados (é triste você ir atualmente a um show e ver metade do público perdendo o espetáculo na frustrante tentativa de gravar o show, e no fim assistem por uma telinha, da mesma forma que se estivesse em casa, só que muito menos confortável). Veja cada detalhe e tente imaginar como ela foi produzida, o contexto, a emoção do artista. Como não é permitido o registro, “poste” uma foto sua na entrada do local e a foto da obra localizada no google, que vão causar o mesmo impacto na sua audiência.